As buscas pelo brasileiro Danilo Cavalcante, condenado à prisão perpétua nos Estados Unidos, entraram nesta sexta-feira (8/9) no nono dia. Uma atração turística foi fechada "até segunda ordem" depois que ele foi flagrado por um morador nas proximidades do local, informou a polícia.
Cavalcante foi visto novamente perto do jardim botânico Longwood Gardens, um popular cartão postal da cidade, pouco antes do meio-dia do horário local 13h de Brasília) da quinta-feira (7/9), segundo o tenente-coronel da Polícia Estadual da Pensilvânia, George Bivens, que lidera a busca.
Por esse motivo, a atração turística foi fechada.
"Enquanto a busca pelo prisioneiro fugitivo da prisão do condado de Chester continua, nossos jardins estão fechados até novo aviso", informou a administração do jardim botânico.
A área onde Cavalcante foi visto não fica longe de onde uma câmera de vigilância que flagrou o brasileiro caminhando pela mata duas vezes em uma hora na noite de segunda-feira (4/9).
Bivens disse que ele e centenas de policiais de agências locais, estaduais e federais estão agora mais esperançosos com a possível captura de Cavalcante.
"Esta é uma operação incrível acontecendo aqui", disse Bivens na tarde de quinta-feira em entrevista a jornalistas. "Esta não é uma situação em que temos um policial sentado esperando a chegada de ligações."
A caçada por Cavalcante mobiliza, além de dezenas de agentes policiais, drones e helicópteros. Escolas foram fechadas e moradores aconselhados a não saírem de casa.
Segundo as autoridades, o brasileiro é "extremamente perigoso".
Ele fugiu da prisão na semana na manhã de 31 de agosto, escalando paredes separadas por um corredor de 1,5 metro de largura. Sua fuga viralizou nas redes sociais e foi notícia ao redor do mundo.
Cavalcante foi condenado à prisão perpétua nos EUA por matar sua ex-namorada, a maranhense Débora Evangelista Brandão, com 38 facadas, em abril de 2021.
A vítima tinha 34 anos e foi assassinada na frente dos dois filhos pequenos, que tinham quatro e sete anos na época.
Segundo as investigações, Cavalcante não aceitava o fim do relacionamento e, desde 2020, ameaçava a vítima.
Ele foi preso menos de duas horas depois do assassinato.
O nome do brasileiro é divulgado como "Danelo" nos comunicados e posts nas redes sociais da polícia americana.
Na mesma entrevista a jornalistas desta quinta-feira, a promotora distrital do condado de Chester, Deb Ryan, que liderou a acusação que resultou na condenação de Cavalcante, afirmou que a família de Brandão está aterrorizada e preocupada com sua segurança.
"Eles estão aterrorizados. Não saem de casa e estão barricados, muito preocupados com sua segurança", disse ela.
Segundo Ryan, uma investigação está em curso para entender como Cavalcante conseguiu fugir da prisão.
Ele foi flagrado diversas vezes desde sua fuga, todas em locais próximos ao presídio. As autoridades acreditam que o brasileiro esteja usando áreas densamente arborizadas para evitar a captura.
Cavalcante também é procurado por assassinato no Brasil ocorrido em 2017 no Tocantins. Ele é réu no caso do homicídio em que Valter Júnior Moreira dos Reis foi morto a tiros em uma praça em Figueirópolis.
O motivo para o crime teria sido uma briga relacionada ao conserto de um carro.
Segundo autoridades, Cavalcante escalou as mesmas paredes que outro preso escalou no início deste ano para escapar. Elas dizem que arame farpado foi instalado após a fuga anterior, mas este não foi eficaz para impedir a fuga do brasileiro.
O diretor interino da prisão do condado de Chester falou em entrevista a jornalistas que a prisão contratou consultores de segurança após a fuga de Igor Bolte em 19 de maio.
Em depoimento à polícia após sua captura, Bolte afirmou que confiou em seu conhecimento de escalada para escapar.
Os consultores "identificaram uma insuficiência", disse o diretor-interino Howard Holland, e arame farpado foi instalado para impedir que outros presos usassem a mesma rota de saída.
"Embora acreditássemos que os nossos métodos de segurança eram suficientes, foi provado o contrário. E agora avançaremos rapidamente para melhorar as nossas medidas de segurança", disse Holland.
O vídeo mostra como ele "subiu uma parede como um caranguejo, passando por arame farpado", disse Holland na quarta-feira.
Após chegarem ao telhado, os presos, em ambos os casos, conseguiram descer uma escada até uma parte menos segura da prisão.
Questionado sobre como uma fuga parecida com a anterior pôde acontecer em tão pouco tempo, Holland respondeu: "Pensamos que tínhamos feito os esforços apropriados para evitar isso com o arame farpado".
No momento da fuga, pouco antes das 9h (9h de Brasília), havia um agente penitenciário na torre de observação.
Mas ele aparentemente não conseguiu monitorar o circuito interno de TV, ao contrário do caso de maio, quando o preso foi recapturado apenas cinco minutos depois de escapar, após ser flagrado em monitores de vídeo.
O policial designado para supervisionar a área de onde Cavalcante fugiu foi suspenso e está sob investigação da Procuradoria-Geral do Estado.
"A ação do oficial da torre de observação durante a fuga é uma parte fundamental da investigação", disse Holland.
Na segunda-feira, as autoridades começaram a usar helicópteros e carros-patrulha para divulgar uma mensagem de áudio gravada pela mãe de Cavalcante no Brasil, na qual ela pede que ele se renda.
Uma recompensa de US$ 10 mil (R$ 50 mil) foi inicialmente por informações que levem à sua captura. Posteriormente, esse valor dobrou, para US$ 20 mil (R$ 100 mil).
Autoridades afirmam que Débora Brandão, ex-namorada de Cavalcante, estava fora de casa com os dois filhos no dia 18 de abril de 2021.
Cavalcante se aproximou dela, agarrou-a pelos cabelos, "jogou-a no chão e esfaqueou-a 38 vezes em praticamente todos os órgãos vitais… fazendo-a sangrar até a morte", disse o gabinete do promotor distrital do condado de Chester em uma postagem no Facebook.
Os filhos de Brandão, de sete e quatro anos na época, correram para pedir ajuda aos vizinhos, e Cavalcante fugiu, acrescentou a promotoria.
A menina de sete anos disse à polícia que quando Cavalcante começou a esfaquear Brandão, disse que iria matá-la, segundo o inquérito policial.
Ele foi preso várias horas depois no estado americano da Virgínia, disseram os promotores.
As autoridades acreditam que Cavalcante estava tentando fugir para o México com a intenção de seguir mais tarde para o Brasil, disse a promotora distrital Deb Ryan.
A polícia do município de Schuylkill foi enviada à casa por volta das 16h17 do dia do assassinato e encontrou Brandão no chão "com múltiplas facadas no peito", disse o gabinete da promotora.
Uma vizinha tentou realizar primeiros socorros em Brandão enquanto esperavam a chegada dos serviços médicos de emergência, mas ela foi declarada morta em um hospital pouco depois.
Após o esfaqueamento, a filha de Brandão, de sete anos, disse à polícia que Cavalcante apareceu na casa deles e "disse que ia fazer algo ruim na vida deles e tirou duas facas de uma bolsa preta que estava nas costas".
A filha disse que começou a gritar e Cavalcante jogou uma pedra nela, atingindo sua perna, segundo o inquérito policial.
Após correr até o vizinho em busca de socorro, a menina olhou para fora e viu Cavalcante fugindo em um carro preto.
A irmã de Brandão, Sarah, disse que as duas eram melhores amigas e que, quando soube do assassinato de Débora, seu "mundo acabou". Ela ficou com a guarda das crianças.
Em entrevista à emissora americana CNN, Sarah afirmou que Cavalcante passou de vizinho amigável a namorado ciumento.
Deborah disse à irmã que "ele foi legal com ela, foi legal com os filhos dela, que a ajudou", mas "as coisas mudaram com o tempo".
"Ela ficava dizendo que ele tinha muito ciúme, que quando bebia virava uma pessoa diferente, que ficava mexendo no celular dela", disse Sarah.
Brandão havia entrado com um mandado de prevenção de abuso contra Cavalcante em dezembro de 2020, segundo o inquérito policial.
A ordem de restrição mostra que ele tinha histórico de agressões a Brandão e já havia apontado uma faca para ela.
"Esta foi uma tragédia sem sentido que impactou inúmeras pessoas devido às ações frias, calculadas e hediondas do réu", disse o procurador Ryan, que liderou a equipe de acusação contra Cavalcante, no mês passado.
"Os filhos de Brandão ficaram agora órfãos de mãe e ela nunca terá a oportunidade de ver os filhos crescerem, terminarem a escola ou constituírem família própria", acrescentou ele.
A filha de Brandão testemunhou no caso e “ajudou a obter justiça para sua mãe”, disse o promotor público. A menina também identificou Cavalcante em uma fotografia logo após o assassinato e disse à polícia: "É ele, é o cara que matou minha mãe. Por favor, pegue-o e coloque-o na prisão", segundo o depoimento.
Em 16 de agosto de 2023, Cavalcante foi condenado por homicídio, segundo o Ministério Público dos EUA, e poucos dias depois, condenado à prisão perpétua sem possibilidade de liberdade condicional.
Os advogados de Cavalcante disseram aos jurados durante o julgamento que ele foi provocado e "agredido" quando atacou Brandão.
Sarah disse que vive com medo desde a fuga de Cavalcante da prisão e teme que ele venha atrás dela.
"Faz muitos dias que não durmo. Desde então, tenho acordado assustada à noite. Cochilo e acordo com medo", disse ela à CNN.
Apesar disso, ela acredita que a polícia irá capturá-lo.