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09/12/2023 às 11h59min - Atualizada em 09/12/2023 às 11h59min

Ex-Odebrecht envolvido na Lava Jato colombiana é gestor de obras da Braskem em Maceió

Ex-diretor da Odebrecht é responsável por contrato milionário para preenchimento das minas de sal-gema

A Publica

Ex-diretor da Odebrecht na Colômbia indiciado por corrupção em agosto deste ano, é o responsável pela gestão do contrato milionário, firmado entre a Braskem e a MTSul Construções, para o fornecimento de areia para preencher as minas de sal-gema, que têm provocado o afundamento do solo em Maceió. 


O engenheiro civil Eleuberto Martorelli trabalhou durante 22 anos, de 1997 a 2019, na Odebrecht – atual Novonor, que é a controladora da Braskem – e agora presta os serviços indiretamente para a ex-empregadora por meio da terceirizada. 


A Agência Pública teve acesso exclusivo ao contrato, no valor estimado de R$62,9 milhões, firmado entre a mineradora e a MTSul Construções em junho de 2022, com vigência até dezembro de 2024. 


De acordo com o documento, a empresa foi contratada para fornecer em 18 meses, um volume de areia de até 550 mil metros cúbicos. A mina 18 que está em risco de colapso, possui 116 mil metros cúbicos, segundo a prefeitura da capital alagoana. “O material será fornecido por demanda, não havendo obrigatoriedade do consumo no valor global do contrato”, diz o acordo.

Martorelli é o procurador da MTSul e gestor do contrato com a Braskem, conforme o documento. Ele foi diretor da Odebrecht na Colômbia de 2013 a 2017 e em agosto deste ano foi indiciado por corrupção pelo Ministério Público no país, numa investigação iniciada a partir dos desdobramentos da Operação Lava Jato no Brasil.


O engenheiro chegou a admitir em sua delação à Justiça colombiana em 2017, que pagou propina a políticos e servidores públicos, e que as campanhas do então presidente Juan Manuel Santos, e de seu opositor, o ex-candidato derrotado Óscar Iván Zuluaga, receberam dinheiro da Odebrecht por meio de caixa dois. 


“Paguei (a Santos), em março de 2014, US$ 500 mil e, depois, com a conclusão dos serviços (da pesquisa de opinião) em abril, paguei outros US$ 500 mil”, afirmou Martorelli, referindo-se aos pagamentos ilegais realizados por meio do departamento da Odebrecht destinado à gestão e distribuição da propina. 


O atual representante da MTSul Construções publicou em seu Linkedin que trabalha na empresa mato-grossense desde 2021. Ele registrou na rede que é o responsável pela abertura do mercado da empreiteira no Nordeste e por ter conquistado os contratos junto à Braskem.

Questionada pela Pública sobre os critérios na escolha de suas terceirizadas, a Braskem informou que “possui um sistema de conformidade onde avalia a integridade dos parceiros com os quais se relaciona”. “Os processos de contratação obedecem diretrizes empresariais rigorosas e são conduzidos exclusivamente pela companhia, sem qualquer participação do município de Maceió no processo”, destacou a mineradora em nota. A reportagem tentou contato com a MTSul, com o presidente da empresa Márcio Bozetti e com Eleuberto Martinelli, mas não obteve retorno. 


Conforme apurou a Pública junto a fontes em Maceió próximas ao caso, Martorelli teria levado para trabalhar na MTSul em Alagoas outro nome que ficou famoso no escândalo da Lava Jato, o também ex-servidor da Odebrecht Carlos Berardo Zaeyen. 


Em depoimento à Polícia Federal, Zaeyen apontou suspeitas de fraude na Construção da Cidade Administrativa, durante o governo do hoje deputado federal Aécio Neves (PSDB). O caso acabou arquivado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), após as provas da Odebrecht terem sido consideradas inválidas. 

Conforme informações do site do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Alagoas (CREA/AL), a MTSul solicitou em outubro de 2022, a inclusão de Zaeyen como responsável técnico em uma obra da empresa no município de Arapiraca, a 220 quilômetros de Maceió. 


Obras de mobilidade urbana 

Além do fornecimento de areia para preencher as minas e evitar a movimentação de terra, a MTSul foi contratada pela Braskem para executar outras duas obras de mobilidade previstas no acordo socioambiental firmado entre a mineradora, os Ministérios Públicos Federal, Estadual e a prefeitura de Maceió: a terraplanagem da encosta do bairro Mutange – o mais atingido pela extração de sal-gema – e a ampliação da Avenida Durval de Góes Monteiro, uma das principais vias da cidade. 


Por meio do acordo Socioambiental, a Braskem se comprometeu a “adotar as medidas necessárias à estabilização e ao monitoramento da subsidência decorrente da extração de sal-gema”; “reparar, mitigar ou compensar potenciais impactos e danos ambientais decorrentes da extração de sal-gema” e “reparar, mitigar ou compensar potenciais impactos e danos socio urbanísticos decorrentes da extração de sal- gema, entendidos como os impactos nas áreas desocupadas, na mobilidade urbana e os impactos sociais”. De acordo com termo firmado, as ações de mobilidade urbana custarão à mineradora R$360 milhões. 


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