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09/10/2019 às 16h09min - Atualizada em 09/10/2019 às 16h09min

Manifestantes invadem Assembleia Nacional do Equador em meio à violência nas ruas

Liderados por representantes do movimento indígena, centenas de pessoas romperam o cordão de segurança e ocuparam o prédio no começo da tarde; presidente anunciou restrições em locais próximos a prédios do governo

O Globo | Mundo
Manifestantes deixam a Assembleia do Equador após serem expulsos pela polícia. Governo decretou toque de recolher em áreas próximas a edifícios públicos Foto: DANIEL TAPIA / REUTERS
 

Em um dos dias mais tensos desde o início dos protestos contra o governo no Equador, manifestantes de grupos indígenas tomaram controle do prédio da Assembleia Nacional, em Quito, horas depois de o presidente Lenín Moreno transferir a sede do governo para a cidade de Guayaquil.

Os manifestantes, cerca de 10 mil pelas contas da Conaie, a maior confederação indígena do país, estavam concentrados em um parque próximo, concentrados para uma marcha prevista para esta quarta-feira (9). Um grupo deles decidiu, então, partir em direção à Assembleia. Apesar do grande número de policiais, eles conseguiram chegar até o plenário, que estava vazio no momento. Eles gritavam palavras contra o presidente Moreno e dizendo" nós somos o povo".

Pouco depois, as bombas de gás começaram a ser lançadas, e o grupo acabou expulso do local. Segundo a Conaie, algumas pessoas ficaram feridas, precisando de cuidados médicos. Mas, segundo testemunhas, os policiais chegaram a jogar bombas dentro do pronto-socorro.

Horas depois da invasão, o presidente Lenín Moreno anunciou que iria restringir o acesso em áreas próximas a prédios do governo, como a própria Assembleia, e instalações consideradas estratégicas. Segundo o decreto, a medida valerá por trinta dias, sendo aplicada de segunda a sexta-feira, impedindo o acesso de pessoas sem autorização nestes locais entre as 20:00 e as 05:00 . As autoridades não afirmaram se os milhares de manifestantes concentrados perto do prédio do Legislativo terão que deixar o local. A ordem já trazia a assinatura do presidente em Guayaquil.



Capital paralisada


Ao redor da capital, o dia também foi de confrontos entre os manifestantes e a polícia, com pedras e bombas de gás em profusão. A cidade está virtualmente paralisada desde quinta-feira, quando começaram os protestos contra as reformas trabalhistas e fiscais promovidas pelo governo, previstas em um acordo com o FMI em troca de um empréstimo de US$ 4,209 bilhões. Uma das medidas elevou os preços dos combustíveis em 123% , ao acabar com subsídios em vigor havia quatro décadas. O objetivo é reduzir o déficit público de cerca de US$ 3,6 bilhões este ano para menos de US$ 1 bilhão em 2020.

 

Policiais observam manifestantes durante confronto nas ruas de Quito. Capital equatoriana está paralisada desde a semana passada Foto: MARTIN BERNETTI / AFP

Policiais observam manifestantes durante confronto nas ruas de Quito. Capital equatoriana está paralisada desde a semana passada Foto: MARTIN BERNETTI / AFP

Policiais observam manifestantes durante confronto nas ruas de Quito. Capital equatoriana está paralisada desde a semana passada Foto: MARTIN BERNETTI / AFP
 
Desde então, as aulas foram suspensas e o prefeito de Quito, Jorge Yunda , declarou estado de emergência. Ele  pediu a todos os prefeitos do país que se disponham a atuar como mediadores entre o governo e os manifestantes.
 
— Faço um apelo às Forças Armadas e à polícia: o povo não é nosso inimigo. Igualmente aos manifestantes: as pessoas de uniforme não são nossas inimigas — disse Yunda. — Temos inimigos em comum: a delinquência, o desemprego, o narcotráfico. Não geremos uma guerra fratricida.
 
Já a pasta da Energia, por sua vez, anunciou na última segunda-feira a suspensão das operações em três campos petroleiros na região amazônica, "devido a tomada das instalações". Os protestos já levaram à interrupção de 31% da produção de petróleo do país,  equivalendo a 165 mil barris/dia. 


A resposta de Moreno foi a decretação do estado de exceção no dia 3, que irritou mais ainda os manifestantes. A medida, que vale por 60 dias e pode ser estendida por mais 30,  permite que o governo limite a liberdade de ir e vir da população e imponha censura prévia à imprensa. O decreto  também autoriza o uso de militares na segurança pública e o fechamento de portos e aeroportos. No entanto, a Corte Constitucional reduziu para 30 dias, ontem, a vigência do estado de exceção.

Acusações contra Correa

Logo depois de anunciar a transferência da sede do governo para Guayaquil — uma medida prevista na lei, segundo especialistas — o presidente Lenín Moreno disse que os atos eram um "ataque à democracia", acusando seu ex-aliado e antecessor Rafael Correa, além do presidente venezuelano Nicolás Maduro de terem participação direta neles.

— O sátrapa (tirano) do Maduro ativou seu plano de desestabilização junto com Correa. Eles são os responsáveis por essa tentativa de golpe e estão usando e instrumentalizando alguns setores indígenas — afirmou durante seu discurso, ladeado pelo vice-presidente Otto Sonnenholzner, pelo ministro da Defesa, Oswaldo Jarrín, e por toda a alta cúpula militar.


Correa, que vive em Bruxelas, negou ter participação nos atos.

—  São tão mentirosos que se contradizem eles mesmos. Dizem que sou tão poderoso que de Bruxelas, com um iPhone, poderia liderar os protestos. Estão mentindo —  disse Correa à Reuters erguendo o celular. —  As pessoas não aguentavam mais, esta é a verdade.


Conaie também rebateu as acusações do presidente, dizendo,  no Twitter que "se asfasta da plataforma golpista do correísmo". Na rede social, publicaram fotos de um aliado de Correa que foi expulso de um protesto, com o texto: "esta greve é do povo, não uma plataforma política."

Em busca de um caminho para o diálogo com os oposicionistas, o governo busca a ajuda internacional. Na terça-feira, a chancelaria do país disse ter aceitado uma oferta da ONU para que acompanhe a situação no país e "favoreça o retorno à paz social e ao entendimento dentro do país". Além da ONU, oito países, incluindo o Brasil, 
manifestaram apoio ao presidente Lenín Moreno .





 
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