O afundamento parcial da mina 18 da Braskem, no Mutange, abriu novas modalidades de gastos públicos na prefeitura de Maceió. Em meio à ameaça de colapso anunciada inicialmente pela empresa e, em seguida, confirmada pela Defesa Civil do Município, o prefeito João Henrique Caldas, o JHC (PL), desembarcou em Maceió num jatinho alugado da empresa Rio Madeira Aviação no aeroporto Zumbi dos Palmares na noite do dia 29 de novembro.
O alerta foi feito pela Defesa Civil de Maceió às 13h do dia 29 de novembro, depois o órgão ter confirmado que foram registrados dois dias antes - entre a madrugada do dia 27 e a manhã do dia 28 - três abalos sísmicos. Os abalos foram sentidos por moradores e confirmados pelas autoridades.
Em reportagem do jornal O Globo, a jornalista Malu Gaspar revelou, ainda, que a prefeitura de Maceió tinha conhecimento, pelo menos dois meses antes – em setembro de 2023 – do risco de colapso na mina 18.
Apesar de todas as sinalizações, o prefeito de Maceió havia marcado uma viagem de uma semana para Dubai, nos Emirados Árabes, que começaria no dia 29 de novembro, conforme publicação de diárias para JHC no Diário Oficial de Maceió.
O jatinho foi o primeiro pago pela prefeitura de Maceió para viagem de um prefeito. Pela locação do jatinho da Rio Madeira, a prefeitura de Maceió pagou R$ 125,3 mil, no trecho entre Brasília e a capital alagoana, sendo que tem vários voos diários de ao menos três companhias aéreas (Azul, Gol e Latam) em diferentes horários do dia nesta mesma rota.
Logo em seguida, no dia 1o de dezembro, a prefeitura "inova" e contrata de forma emergencial um helicóptero para que o prefeito sobrevoe a área da mina 18. JHC fez "selfies" e divulgou algumas gravações nas redes sociais, mostrando imagens área afetada. Nos vídeos, ele faz comentários sobre a situação – o que poderia ter feito facilmente a partir de imagens de drones – e avisa que era uma “ação de monitoramento”.
A área da mina 18 é constantemente monitorada por câmeras e drones, o que torna dispensável para efeito de monitoramento o uso de helicóptero pela Defesa Civil. A aeronave, no entanto, serviu bem para a gravação de vários vídeos para as redes sociais do prefeito João Henrique Caldas.
Além do prefeito, também sobrevoaram a área no helicóptero locado pelo município alguns aliados políticos, a exemplo do senador Rodrigo Cunha (União) e do presidente da Câmara de Vereadores de Maceió, Galba Netto (MDB), que foram convidados para voar na aeronave no dia em que foi registrado o afundamento parcial da mina – 10 de dezembro de 2023.
Pela locação do helicóptero a prefeitura pagou R$ 126 mil à Sotan Táxi Aéreo. Foram dois contratos. O primeiro, de R$ 21 mil, refere-se ao sobrevoo na mina 18 no dia 19 e seria referente a “Locação de táxi-aéreo, para auxiliar a Defesa Civil diante das emergências da calamidade”. O outro contrato, de R$ 105 mil, tem na sua descrição apenas “Valor referente à locação de helicóptero”.
As despesas com as aeronaves correram pela Secretaria de Governo, a mesma que fez a aquisição de Drones para a Defesa Civil de Maceió em dois processos, um de R$ 23 mil e outro de R$ 245 mil. A compra destes equipamentos, além da disponibilização de diversos equipamentos da Braskem e da própria prefeitura, torna o helicóptero dispensável para o monitoramento da área. No caso de selfies do prefeito sobrevoando a área, o equipamento no entanto torna-se indispensável.