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14/12/2022 às 17h16min - Atualizada em 14/12/2022 às 17h16min

Onde você esconde seus preconceitos?

Por Marcelo Nascimento 


“Um homem foi encontrado morto dentro de uma casa em Arapiraca”, foi assim que, em horário nobre, o jornalista âncora do principal telejornal de Alagoas, anunciou o assassinato de Josy Kely, mulher trans, fundadora do Somos, o primeiro grupo LGBTQIA+ de Arapiraca, Al. 


Embora a matéria faça referência ao fato da vítima ser defensora dos direitos da comunidade LGBTQIAP+, utiliza-se novamente o emprego do gênero masculino, promovendo o apagamento social da identidade gênero de Josy Kely, que afirma-se como uma mulher transexual, pela qual ela havia lutado por décadas.


Conheci a ativista Josy Kely no final da década 2000 quando da criação do grupo Sohmos LGBT de Arapiraca. Josy Kely só queria ser feliz, amar e ser amada, sonhava com um mundo mais inclusivo, acolhedor e respeitoso para as pessoas que amam diferente dos padrões culturais cisheteronormativos. 


Importante registrar antes de tudo que há total concordância de que a imprensa tem o importante papel social de noticiar e dar publicidade aos crimes cometidos contra os direitos humanos fundamentais das pessoas LGBTQIA+, visando despertar às autoridades constituídas para providências legais e elucidação desses delitos. 


Como diz o cantor e compositor Milton Nascimento, “a palavra é uma faca amolada”. Para o comunicador social a palavra tem poder de legítimar situações, preconceitos e estigmas, mas também poderá conduzir os/as/es leitores/as e ouvintes a uma cultura de reconhecimento e respeito à diversidade sexual e de gênero.


Josy foi mais uma vítima das milhares de facas que são amoladas diariamente em alguns templos religiosos, na imprensa machista e lgbtfobica, nas escolas tradicionais e no seio das famílias conservadoras. 


Josy continuará presente nos corações e nas mentes das pessoas que constroem diariamente com suas práticas libertadoras um mundo melhor e mais inclusivo. 


A atual conjuntura tem apresentado desafios gigantescos para garantir a democracia plena, um desses desafios consiste na construção de uma imprensa livre, democrática e libertadora, cumprindo seu papel estratégico na promoção de uma cultura de paz e respeito aos direitos Humanos das pessoas trans e suas identidades. 


Josy Kely, Presente! 


*Fundador do Movimento LGBTQIAP+ em Alagoas, bacharel em Direito e ex-presidente da ABGLT.


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