A notícia é um soco.
Na última sexta-feira (19), Michelle Macena, de 20 anos, tinha terminado uma faxina na casa em que morava com os pais e os irmãos no município de Uiraúna, sertão da Paraíba. Um dos irmãos de Michelle sujou o fogão que ela tinha acabado de limpar, gerando uma briga entre entre eles. O pai de Michelle, que resolveu intervir em favor do irmão, deu um soco no rosto de Michelle, que com o impacto da agressão, bateu com a cabeça na parede (ou no chão). Inconsciente, Michelle foi levada ao Hospital Regional de Sousa e faleceu no sábado (20) com traumatismo craniano.
Até a manhã de ontem, terça-feira (23), ninguém havia sido ouvido pelo delegado Ilamilton Simplício, superintendente da Seccional de Cajazeiras da Polícia Civil da Paraíba. Numa entrevista a um programa de TV na manhã desta terça, o delegado informou que o pai de Michelle será indiciado por lesão corporal seguido de morte.
De acordo com informações extra oficiais, o pai da jovem tinha um histórico de relacionamento violento com os filhos, embora não exista nenhuma denúncia formal. Até o momento, o pai segue em destino desconhecido e não participou do velório e do enterro da filha. Como ainda não foi indiciado, não pode ser considerado foragido.
Apesar do fato estar sendo tratado como uma simples discussão familiar que saiu do controle, é importante deixar registrado alguns pontos:
O peso do trabalho doméstico que é jogado nas costas das mulheres;
O desrespeito com esse trabalho, invisível e não remunerado;
A total ausência de equidade no tratamento dos filhos homens com as filhas mulheres;
A banalidade da violência doméstica;
O pai queria realmente matar sua filha? Esse irmão teve intenção de causar esse desfecho trágico? Michelle exagerou na sua reclamação e poderia ter evitado a própria morte?
Cada uma dessas perguntas gera um tipo de incômodo diferente, mas deixa aberta a ferida causada por uma cultura que coloca as mulheres em situação de subserviência e que destruiu uma família inteira.
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