Daniel Alves foi anunciado pelo São Paulo em 1º de agosto. No dia 5, foi apresentado para a torcida num Morumbi eletrizante. A adrenalina só subiu até o dia 18, quando estreou pelo time para marcar o gol da vitória sobre o Ceará, ainda pelo primeiro turno do Brasileirão. No calendário, de lá para cá não passaram nem quatro meses, mas, do seu ponto de vista, aquele dia é uma realidade já distante. De tão intensa que vem sendo sua readaptação ao futebol brasileiro. De tudo o que eu vivi, em toda minha vida, eu acredito que é o desafio mais inquietante que eu já tive. Tanto na qualidade de vida, quanto na qualidade do futebol.
"Está sendo um desafio bem louco".
Estamos falando de um jogador que, aos 36, "saiu da pqp", como costuma dizer, para conquistar três Ligas dos Campeões, duas Copas da Uefa, três Mundiais de Clubes, diversas ligas e copas nacionais. Se falta a ele —a toda a sua geração, na verdade— uma Copa do Mundo, não dá para esquecer que tem também duas Copas Américas no currículo. A última delas, erguida neste ano. Ele foi coroado como o melhor jogador do torneio.
Ele viu, por exemplo, a ascensão de Lionel Messi, Neymar e outros craques de perto. Viu, também, que que vários caíram pelo caminho. Está há tanto tempo na elite que testemunhou até mesmo os dias em que Pep Guardiola era vaiado em Barcelona. Você não se lembra? Parece que foi em outra vida, mesmo. Mas não é nada que se compare à experiência dos últimos meses na capital paulistana, tamanho o choque cultural. "Sinceramente, acredito que aqui no Brasil é o único lugar em que não se tem esse processo de entender onde você está, o que você precisa fazer para ajudar. Aqui, quando você vem e já tem um nome, tem que dar resultado, tem que fazer as coisas acontecerem. É bem louco", disse.
"Não fui eu que contratei Diniz, mas eu o contrataria"
Daniel Alves surpreendeu o mundo quando escolheu jogar no São Paulo logo após ser eleito o melhor atleta da Copa América 2019. Tinha ofertas na mesa de gigantes europeus após sair do Paris Saint-Germain, depois de 16 temporadas no exterior. Afirmou, na época, que pesou o desejo de defender o clube do coração. É certo, também, que a a duração do contrato oferecido —de três anos— foi tão importante quanto. Agora, entre idealizar um cenário e encará-lo diariamente, há uma grande diferença. Aos poucos, Daniel foi submetido a pequenos grandes choques. Seja a conduta da mídia, que, em muitas ocasiões, tornou-se seu alvo, ou principalmente pela instabilidade política que chacoalha o Morumbi, o veterano teve quatro meses de aprendizado. Os bastidores do clube parecem centralizar sua atenção no momento. É um clube cujo presidente, Carlos Augusto de Barros e Silva, o Leco, já acumula dez treinadores durante sua gestão. O número de diretores, remunerados ou estatutários, também foi considerável. Nas últimas semanas do Brasileirão, aliás, houve rumores fortes de uma possível queda do diretor executivo Raí. Daniel ficou contrariado. Assim como não lhe entra na cabeça a possibilidade de Fernando Diniz ser derrubado. O técnico tem seu total respaldo —confiança já manifestada no momento de sua contratação