Como era de se esperar, até porque isso já havia ocorrido nos anos anteriores, Bolsonaro despejou um caminhão de bobagens no púlpito da ONU e, aproveitando que aquele ano era ano eleitoral, fez do local um palanque político. Uma frase chamou bastante a atenção pela agressividade e tom jactancioso.
“No meu governo, extirpamos a corrupção sistêmica que existia no país”, disparou com arrogância o presidente brasileiro.
Não há novidade no discurso “anticorrupção” de Jair Bolsonaro e de seus correligionários, mas o que ocorreria horas depois daquelas palavras, a 1.130 metros dali, no hotel Omni Berkshire Place, era o absoluto inverso do que o mandatário tinha acabado de proferir.
Em uma mesa instalada numa área reservada e protegida do luxuoso hotel, Bolsonaro sentava à beira de uma mesa redonda na companhia de algumas pessoas, entre elas o seu então ajudante de ordens, o tenente-coronel Mauro Cesar Barbosa Cid, e o pai dele, o general da reserva Mauro Cesar Lourena Cid, amigo íntimo e de total confiança do presidente por décadas. Bolsonaro usava ainda a mesma roupa do momento do pronunciamento nas Nações Unidas, exceto pelo fato de ter retirado o paletó. Uma camisa branca e uma gravata azul-marinho.
Segundo o relatório da Polícia Federal que investiga a quadrilha formada para furtar joias e artigos valiosos do acervo da Presidência da República para vendê-las no exterior, onde constam imagens do circuito de vigilância mostrando o encontro, era ali que Cid pai entregava um pacote com US$ 37,6 mil (aproximadamente R$ 201 mil), referentes a uma fração da venda de dois relógios de grife, um Patek Philippe e um Rolex, extraviados do Palácio do Planalto e negociados criminosamente numa casa de itens do tipo nos EUA. O valor não era o total, já que o general aposentado não conseguia juntar todo o montante pelas restrições e limites para saques em caixas eletrônicos norte-americanos.
Piorando tudo para o hoje ex-presidente, Lourena Cid confirmou a história à PF em seu depoimento, não deixando qualquer dúvida sobre o ato ilegal que acontecia em plena área central e nobilíssima de Nova York.
“[General Lourena Cid disse] que se recorda de ter repassado ao ex-Presidente JAIR BOLSONARO uma parte do valor, quando de sua ida à cidade de Nova lorque para um evento da ONU; QUE repassou os valores quando visitou o ex-Presidente no hotel em QUE este se hospedava em Nova lorque; QUE repassou o dinheiro em espécie para seu filho MAURO CESAR CID”, revela o documento da polícia encaminhado ao STF.
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