Em entrevistas. Nas redes sociais. Nos textos produzidos pela Secretaria de Comunicação do Município. A informação dada pelo prefeito de Maceió, João Henrique Caldas, o JHC (PL) é sempre a mesma: a prefeitura foi buscar o “melhor” e assinou protocolo de intenções com o Hospital Albert Einstein, de São Paulo.
O objetivo seria a prestação de serviços para o Hospital da Cidade, que funcionará no Hospital do Coração, um equipamento privado, que mesmo desapropriado continua operando parcialmente, agora em instalações do poder público municipal.
O Hospital do Coração foi desapropriado no dia 29 de setembro deste ano. No mesmo dia, a prefeitura de Maceió fez o pagamento de R$ 266 milhões, destinado a desapropriação da unidade que tem apenas 75 leitos, com parte deles não operacional. Além disso, a negociação envolveu a compra de um prédio onde funcionaria um centro médio. O edifício está “oco”, sem móveis ou equipamentos.
Além de anunciar a compra do primeiro hospital público da história de Maceió, o prefeito garantiu seu funcionamento para o primeiro trimestre de 2024, com a “orientação” do Hospital Albert Einstein.
Veja o que JHC escreveu nas redes sociais.
“É com imensa alegria que anuncio o 1º Hospital Municipal da história de Maceió: o Hospital da Cidade. A unidade terá uma estrutura de ponta, com 220 leitos, 40 de UTI e 20 semi-intensivos. Adquirimos um Hospital pronto na Gruta e estamos acelerando pra colocar pra funcionar no início de 2024. Assinamos ainda um protocolo de intenções com o Albert Einstein, a melhor rede hospitalar da América Latina, pra cooperação técnica na gestão do Hospital da Cidade.”
Erro, proposital ou não
Na declaração de JHC, carece de explicação a informação de que “Adquirimos um Hospital pronto na Gruta”. Não é verdade. Os vereadores Zé Márcio Filho (MDB) e Joãozinho Gabriel (PSD) conseguiram entrar em parte da estrutura e mostraram, com farto material de vídeo, que de cinco andares do Hospital do Coração que conseguiram visitar, dois estavam desativados e passando por reforma. E de seis andares que tiveram acesso no Centro Médico, todos estavam vazios e sem nenhum equipamento.
Mais grave, no entanto, é afirmação acerca da contratação do Hospital Albert Einstein. A informação até o momento não foi confirmada publicamente pelo hospital paulista, nem a prefeitura de Maceió apresentou o contrato ou o protocolo de intenções.
Pior. Um documento que “vazou” durante a última semana, revela que de fato o Albert Einstein assinou contrato com os mesmos objetivos anunciados pelo prefeito JHC. O contrato no entanto, não foi assinado com a prefeitura, mas com a Cardiodinâmica, empresa que controla o Hospital do Coração e vazou entre colaboradores do Hospital do Coração.
“O Ricardo vai continuar mandando no hospital? Como é isso?”, questiona um dos colaboradores do Hospital do Coração que teve acesso ao documento, distribuído “acidentalmente” num grupo de Whatsapp.
No dia 29 de setembro, quando anunciou a compra do Hospital do Coração, JHC tinha ao seu lado o diretor do Hospital do Coração, Ricardo César Cavalcante e Olga Guilhermina Farah, “Manager at Hospital Israelita Albert Einstein”. Estes dois, de acordo com o documento a que o blog teve acesso, assinaram o contrato entre o Hospital Albert Einstein e a Cardiodinâmica.
O consultor em gestão do Hospital Albert Einstein, Rafael Mota, também estava no evento e elogiou o prefeito pela aquisição e disse estar muito feliz por fazer parte dessa história.
O prazo de vigência do contrato começou, coincidentemente, no mesmo dia, 29 de setembro.
Quem deve explicações?
Há claramente um conflito de interesses ou de informações. Neste caso, as explicações devem ser dadas pelos interessados
– Houve um protocolo de intenções do Einstein com a prefeitura de Maceió?
– O Einstein está atendendo a prefeitura através de um terceiro, a Cardiodinâmica?
– Existem planos para que a Cardiodinâmica siga administrando o Hospital da Cidade?
– A quem o Einstein responde nesse caso específico, a JHC ou a Ricardo Cavalcante
– O prefeito “errou” de caso pensado ou foi induzido ao erro?
– E se JHC não “errou”, não seria o caso de tornar público o contrato com o Einstein?
Veja algumas informações sobre o contrato:
-Objeto: Consultoria Einstein Outros (especificar): Trata-se de contrato de serviços de consultoria, ora denominado: “Desenho de Modelo Organizacional para a Gestão Hospitalar”, na forma estipulada na Proposta da Contratada.
-Informações financeiras Remuneração: R$295.000,00 Valor em moeda estrangeira: Duzentos e noventa e cinco mil reais Valor da parcela (se aplicável): Informações de pagamento Meio de pagamento: Transferência bancária Forma de pagamento: À Vista Detalhe da forma de pagamento: Nº de parcelas (se aplicável): Dados gerais Alçada: Diretor área + 1 Direto
Veja reprodução de partes do contrato:
Como algumas informações são aparentemente sigilosas, o blog vai reproduzir apenas parte do contrato. O acesso ao documento, no entanto, poderá ser feito em vários grupos de Whatsapp onde ele vem circulando.
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