Hoje pela manhã, participei do programa Conversa de Redação, da Rádio Itatiaia de Belo Horizonte, e debatemos temas sensíveis e atuais, como racismo, preconceito e pobreza. Poxa, tanta coisa complexa e verdadeiramente ruim acontecendo, e muitos de nós, privilegiados que somos, imunes a tudo isso, deixando de agradecer, para agredir?
Uma rápida passada de olhos nos senhores e senhoras que pedem o fim da democracia brasileira, mostra que ali está a parcela mais favorecida da sociedade: brancos, classe média ou alta, heterossexuais, com a saúde em dia. Têm tudo para serem felizes e estarem curtindo a vida, mas não, remoem o inconformismo e destilam a violência.
Há dois dias, Isabel fora convidada a participar da equipe de transição do novo governo eleito. Estava bem, feliz, com a saúde em dia. Em menos de 48 horas, o que parecia ser uma “vida privilegiada”, chegou ao fim de forma brutal. Não houve médico (dos melhores), hospital (dos maiores) e medicamentos (dos mais eficazes) capazes de evitar o pior. Iniciei este texto falando da minha crença sobre “não aprender na dor”. Posso parecer paradoxal, ou contraditório, mas não há como eu não relacionar tão triste fato aos movimentos sociais e políticos que temos experimentado nos últimos meses. Se a vida é frágil e breve - e ela é! -, por que não vivê-la de forma e maneira mais úteis?
Por que interromper uma festa, brigando por política e políticos? Por que romper relações afetivas em nome de crenças e desejos unilaterais? Por que deixar para amanhã a troca de afeto, ou a reconciliação, de hoje? Por que infernizar a vida de moradores, estudantes e trabalhadores do Gutierrez e região, se “uma bactéria” nos levará para o mesmo lugar?
Saiam daí, meus caros! Há uma vida para ser vivida. Meus sentimentos aos amigos e familiares de Isabel Salgado, a nossa grande e eterna Isabel, do vôlei. Que sua passagem possa servir de alerta para tanta gente, hoje, necessitada de luz (não a de cunho espiritual, mas a de cunho terreno mesmo, no sentido de sabedoria). Para mim, já serviu. www.em.com.br/app/colunistas/ricardo-kertzman/