O esquema de pirâmide financeira com criptomoedas que o ex-garçom Glaidson Acácio dos Santos, preso na semana passada, é suspeito de comandar contava com braços internacionais na Inglaterra e nos Estados Unidos. É o que o aponta o relatório do Ministério Público Federal (MPF) e da Polícia Federal (PF) no qual foi pedida a prisão dos envolvidos na organização, que prometia rendimentos exorbitantes mediante investimentos em criptomoedas e agia a partir de Cabo Frio, na Região dos Lagos do Rio.
As conexões internacionais identificadas pela PF e pelo MPF estão relacionadas a duas empresas abertas recentemente por Glaidson: a Gas Consultoria em Tecnologia da Informação LLC, na Flórida, nos Estados Unidos, e a Mireglad Technology LTD, em Londres, na Inglaterra. Ao pedir à Justiça Federal a prisão de Glaidson, MPF E PF afirmam que, com isso, ele teria "meios e recursos para permanecer no exterior caso saia do território nacional para se furtar da aplicação da lei penal".
Uma interceptação telefônica feita com autorização judicial mostra ainda que Glaidson estava morando em Miami, na Flórida. No diálogo, Michael de Souza Magno, identificado como operador financeiro da organização criminosa, afirma a um homem não identificado que Glaidson estava vivendo na cidade americana.
"Mas assim, ele tá morando fora, tá morando em Miami. Ele tá passando no Brasil só para resolver as coisas", disse o homem, em diálogo na manhã de 23 de agosto, dois dias antes da prisão de Glaidson.
Magno não teve a prisão pedida pelos investigadores, mas o relatório da Operação Kryptos o coloca como um importante operador da G.A.S Consultoria Bitcoin, empresa de Glaidson. Ele é conhecido como "corretor das celebridades" e aparece em fotos ao lado de atores como Bruno Gagliasso e Nívea Stelmann, para os quais já teria vendido imóveis.
Na conversa, Magno ainda afirma que Glaidson não estava mais "ficando em Cabo Frio", cidade onde sua atuação era mais forte.
De acordo com as investigações, a esposa do "faraó das criptomoedas", Mirelis Yoseline Díaz Zerpa, encontra-se atualmente em Miami com um visto de estudante. Segundo informações da PF e do MPF, a mulher viajou de Cabo Frio para o Rio de Janeiro no dia 23 de junho deste ano, sob forte esquema de segurança. Em seguida, foi para o México e então para os Estados Unidos. Mirelis também teve a prisão decretada pela Justiça e está foragida.
O relatório do MPF e da PF que embasou a prisão do ex-garçom aponta que apenas os 27 maiores destinatários de recursos das contas bancárias do acusado e de sua empresa, sediada na Região dos Lagos, receberam cerca de R$ 2,3 bilhões entre 2018 e 2020.
Ao todo, afirma o Relatório de Inteligência Financeira (RIF), ao qual O GLOBO teve acesso, as operações de Glaidson envolveram pelo menos 8.976 pessoas — sendo 6.249 físicas e 2.727 pessoas jurídicas. A partir de levantamento da Receita Federal, as 27 discriminadas são só as que, no período analisado, somaram aportes acima de R$ 20 milhões. Nesses dois anos, as transferências mais volumosas ocorreram para a MYD Zerpa Tecnologia Eireli, empresa da mulher de Glaidson. Somadas, as transações passam de R$ 477 milhões.
fonte:tnh1.com