O ministro da Economia, Paulo Guedes, disse que só sairia do governo "se alguém me mostrar que estou fazendo algo muito errado". "Tenho noção de compromisso enquanto puder ser útil e gozar da confiança do presidente. Se o presidente não confiar em meu trabalho, sou demissível em 30 segundos. Se eu estiver conseguindo ajudar o Brasil, fazendo as coisas que acredito, devo continuar. Ofensa não me tira daqui, nem o medo, o combate, o vento, a chuva", afirmou Guedes, em entrevista ao youtuber Thiago Nigro, do canal Primo Rico, que foi ao ar no início da manhã desta terça-feira (2).
A fala do ministro acontece após o anúncio da troca de comando da Petrobras, anunciada pelo presidente Jair Bolsonaro em suas redes sociais. Roberto Castello Branco deve ser substituído pelo general Joaquim Luna e Silva.
Guedes disse ainda ter uma missão e se sentir responsável por esse desafio. "Consigo ter uma comunicação boa com o presidente de um lado e com a centro-direita de outro. O que me tira daqui é a perda da confiança do presidente e ir pro caminho errado. Se tiver que empurrar o Brasil para o caminho errado, prefiro sair. Isso não aconteceu, tenho recebido apoio do presidente e do Congresso para ir na direção certa", afirmou.
O ministro disse ainda que tratam de "narrativas idiotas" quando afirmam que ele quer reduzir gastos com saúde e educação. O texto da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) Emergencial originalmente acabava com pisos de gastos para as duas áreas. "Quem é o idiota que seria contra a saúde? Como posso ser contra educação se sou produto da educação? São narrativas idiotas, despreparadas, odientas."
O chefe da Economia de Bolsonaro disse ainda que nunca pensou que seria o ministro que mais aumentaria gastos públicos no Brasil. "O destino me tornou pessoa que gastou muito, mas gastei com consciência tranquila, porque sei que era compromisso com a saúde dos brasileiros e com a recuperação econômica", afirmou.
Mas isso não será para sempre. Por isso, ele pretende "enjaular a besta" dos gastos desenfreados com a PEC Emergencial. "Queremos dizer que é preciso ter responsabilidade fiscal", afirmou. A intenção da equipe econômica é, com a PEC, travar gastos em contrapartida a uma nova rodada do auxílio emergencial. O ministro disse ainda que a ameaça permanente do populismo é falar que "vai dar dinheiro para todo mundo".
"Vai para a hiperinflação. Você está em endividamento em bola de neve, filhos e netos nossos terão impostos muito altos no futuro para pagar essa falta de coragem de uma geração de enfrentar seus problemas", completou.
Guedes disse que o pagamento do auxílio emergencial sem contrapartidas fiscais seria "caótico" para o País. "Isso teria um efeito muito ruim para o Brasil. É o que aprendemos ano passado, não podemos repetir", afirmou.
O ministro disse que o auxílio emergencial agora será em parcelas de R$ 250 e que não foi pago ainda porque é necessária a aprovação da PEC Emergencial, que traz contrapartidas à despesa.
"Acho que o Congresso vai aprovar. Queremos ir para a estrada certa e tenho confiança que o Congresso vem junto", disse. "Tentar empurrar o custo para outras gerações, juros começam a subir, acaba o crescimento econômico, endividamento em bola de neve, confiança de investidores desaparece. É o caminho da miséria, da Venezuela, da Argentina", comparou.
Segundo o ministro, a segunda onda de casos do coronavírus "veio de repente" e o importante agora é a vacinação em massa da população.
Endividamento
No Podcast, Guedes disse que, se o endividamento brasileiro continuar crescendo, chegará uma hora que o País não conseguirá mais pagar. "O endividamento é em bola de neve, não sei se lá na frente vão conseguir pagar isso", afirmou.
O ministro afirmou ainda que é "perfeitamente compatível" enriquecer o país, reduzindo a desigualdade, mas que não adianta querer distribuir riqueza se o Brasil não crescer. "Vamos aperfeiçoar Bolsa Família e chamar de Renda Brasil ali na frente", disse.
Privatização
Guedes reconheceu que tem havido dificuldades em avançar com alguns projetos, destacadamente as privatizações, o que ele defendeu "pelo esgotamento do modelo antigo", afirmando que o "Estado empresário faliu, quebrou".
"As privatizações estão bastante atrasadas, a reforma tributária nossa também se atrasou. A abertura da economia a gente conseguiu ir bem, mas depois chegou a Covid e travou. Mas vamos abrir de novo", disse ele.
Petrobras
Guedes disse que o governo quer criar um fundo com ativos da Petrobras para pagar dividendos "principalmente a pessoas mais frágeis". Depois de o presidente Jair Bolsonaro questionar se o "Petróleo é nosso ou é de um pequeno grupo no Brasil?", Guedes defendeu o pagamento de dividendos para o "povo brasileiro".
"É o seguinte, ou paga dividendos para mais pobres, ou vende. Não pode Petrobras ficar dando prejuízo", afirmou. "Tem uma turma que começa com 'o petróleo é nosso', então pega os mais pobres e vamos dar um pedaço para eles. Temos ideia de fazer algo parecido um pouco à frente, criar um fundo e colocar ativos lá, principalmente para mais frágeis. Vamos fazer um programa de transferência na veia, pega os 20%, 30% mais pobres e dá a sua parte da Petrobras".
*Com Reuters e Estadão Conteúdo