O projeto é liderado pelo professor Jacob Scharcanski, do Instituto de Informática da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Por enquanto, foi produzido apenas um protótipo usando a tecnologia.
"Não usamos nenhum equipamento especial, apenas um smartphone. Já chegamos a uma taxa altíssima de indicação de lesões malignas e ainda estamos aprimorando o software", diz o professor.
O foco do atual estágio da pesquisa é prevenir alguns problemas que possam aparecer no uso diário do equipamento. "Queremos resolver alguns detalhes que surgem quando as imagens são capturadas em condições ruins, como falta de iluminação, para melhorar ainda mais a taxa de acerto", explica Scharcanski.
Como funciona: a foto de uma mancha ou lesão na pele é processada pelo software, levando em conta diversas características indicativas de câncer, fornecidas por estudos médicos e testes com pessoas. O algoritmo simula o que o dermatologista faria, observando a aparência, a cor, a textura, o tamanho e a irregularidade das bordas.
Como é baseado em inteligência artificial, quanto mais for sendo usado, mais vai aprendendo e mais eficiente se torna. Mas não substitui uma ida ao médico.
"A ideia é fornecer um indicativo que a lesão é potencialmente maligna ou não. Quando um possível câncer for detectado, a pessoa deve procurar um dermatologista e fazer os exames tradicionais, como uma biópsia, para confirmá-lo", diz o professor.
Scharcanski acredita que, um dia, o equipamento será utilizado por clínicos gerais nos postos de saúde, para agilizar o encaminhamento e o tratamento de quem mais precisa: "Um paciente que depende da rede pública pode ser beneficiado, pois uma indicação de lesão maligna já no atendimento inicial pode diminuir o tempo de espera por um especialista".
O Brasil é um dos países com maior incidência de câncer de pele: são registrados 180 mil novos casos a cada ano, segundo o Inca (Instituto Nacional de Câncer). O mais agressivo deles, o melanoma, mata cerca de 1.500 pessoas todos os anos. Mas, se detectado precocemente, apresenta grandes chances de cura.
O dermatoscópio, que hoje é usado para a detecção da doença, é um equipamento relativamente caro —com preço médio de R$ 3 mil, segundo anúncios na internet— e que só pode ser utilizado por dermatologistas treinados. "Nosso protótipo é muito fácil de ser operado. Ele poderá ser utilizado por profissionais de saúde não treinados em dermatoscopia. E, melhor ainda: tem mais confiabilidade nos resultados", diz Jacob.
A ideia do professor é que o programa também possa ser usado por usuários comuns, para que possamos nós mesmos testar qualquer lesão suspeita ao toque do celular.
O novo aparelho deve, de fato, estar no mercado brasileiro daqui entre um e três anos. Para ser produzido em escala comercial, ainda é preciso conseguir certificações, realizar mais testes clínicos e montar uma infraestrutura de produção. O caminho para isso são parcerias e um financiamento, que ainda estão sendo captados.
Jacob Scharcanski é membro do Instituto de Engenheiros Eletrônicos e Eletricistas (IEEE), maior organização profissional dedicada ao avanço da tecnologia em benefício da humanidade. Ele desenvolveu o projeto em parceria com empresas privadas, a Universidade de Waterloo, no Canadá, alunos da UFRGS, pesquisadores brasileiros e outras instituições do Brasil.