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16/10/2019 às 12h12min - Atualizada em 16/10/2019 às 12h12min

Não quero tomar o PSL de ninguém, diz Bolsonaro sobre atritos com Bivar

Presidente nega mágoa com dirigente e afirma que não está tumultuando sigla

Folha de S. Paulo
Foto: Reprodução
Em uma tentativa de colocar panos quentes na crise no PSL, o presidente Jair Bolsonaro disse nesta quarta-feira (16) que não quer tomar o controle do partido e que não tem mágoas do presidente nacional da legenda, o deputado federal Luciano Bivar (PE).

Na saída do Palácio do Alvorada, onde costuma conversar com simpatizantes, ele voltou a cobrar a transparência na prestação de contas da sigla e disse que não justifica criticá-lo por tentar dividir ou tumultuar a legenda.

"O partido tem de fazer a coisa que tem de ser feita. Normal, não tem que esconder nada. Eu não quero tomar partido de ninguém. Agora, transparência faz parte. O dinheiro é público", disse. "Não tenho mágoa com ninguém", respondeu ao ser indagado sobre sua relação com o atual presidente da legenda.

Na semana passada, Bolsonaro requereu a Bivar a realização de uma auditoria externa nas contas da legenda. A ideia tem sido a de usar eventuais irregularidades nos documentos como justa causa para uma desfiliação de deputados da sigla, o que evitaria perda de mandato. O episódio, no entanto, criou uma disputa interna na sigla, com a ameaça inclusive de expulsões.

Aliados do Bolsonaro tem dito que só oficializará a saída do PSL caso consiga viabilizar a migração segura de cerca de 20 deputados do PSL (de uma bancada de 53) a outra sigla.

Nos bastidores, esses parlamentares já aceitam abrir mão do fundo partidário do PSL em troca de uma desfiliação sem a perda do mandato. A previsão é de que o PSL receba R$ 110 milhões de recursos públicos em 2019, a maior fatia entre todas as legendas.

A lei permite, em algumas situações, que o parlamentar mude de partido sem risco de perder o mandato - entre elas mudança substancial e desvio reiterado do programa partidário e grave discriminação política pessoal.

Nesta terça-feira (15), a temperatura da crise aumentou com deflagração de uma operação da Polícia Federal em endereços ligados a Bivar, na esteira da investigação de candidaturas laranja, caso revelado pela Folha.

Apesar do discurso de pressão a Bivar, Bolsonaro mantém no cargo o ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, indiciado pela PF e denunciado pelo Ministério Público por três crimes no esquema dos laranjas.

"O partido está com a oportunidade de se unir na transparência. Não tem um lado A ou um lado B. O presidente falou em transparência. Eu falei, sim, em transparência. Então, vamos mostrar as contas. E não ficar, como a gente vê notícias por aí, de expulsa de lá, tira da comissão, vai retaliar", disse Bolsonaro.

O laranjal do PSL deu início a uma crise na legenda e tem sido um dos elementos de desgaste entre o grupo Bivar e o de Bolsonaro, que ameaça deixar o partido.

Em fevereiro, a Folha mostrou que o grupo de Bivar criou uma candidata de fachada em Pernambuco que recebeu do partido R$ 400 mil de dinheiro público na eleição de 2018.

Maria de Lourdes Paixão, 68, que oficialmente concorreu a deputada federal e teve apenas 274 votos, foi a terceira maior beneficiada com verba do PSL em todo o país, mais do que o próprio presidente Jair Bolsonaro e a deputada Joice Hasselman (SP), essa com 1,079 milhão de votos. 

À época, a Folha visitou os endereços informados pela gráfica na nota fiscal e na Receita Federal e não encontrou sinais de que ela tenha funcionado nesses locais durante a eleição.

Questionado nesta quarta-feira se defende a saída de Bivar do comanda da sigla, o presidente disse que não defende "nada" e que só cobra um gesto de transparência. Ele ressaltou que deve ao PSL a sua eleição ao Palácio do Planalto, apesar de outros partidos terem ofericido legenda.

"Não defendo nada, não quero saber de nada, só quero transparência". afirmou. "Não justifica que eu estou tumultuando a relação com o partido, que estou dividindo, não justifica. Eu estou calado e vou continuar calado sobre esse assunto", acrescentou.

O presidente reclamou da cobertura da imprensa que, de acordo com ele, "só vê coisa ruim" e o tempo todo dá "pancada". "Será que é justo o tempo todo só pancada no presidente, só vê coisa ruim? Eu não tenho falado nada do PSL, zero. O tempo todo fofoca que eu estou elegendo traidores pra cá, traidores pra lá."

Mesmo com a instabilidade do partido, o presidente disse acreditar que o Senado aprove nesta quarta-feira a medida provisória da reestruturação administrativa, que perde a validade na quinta-feira (17). "Foi votada na Câmara e deve votar hoje. Devo conversar com o presidente Davi Alcolumbre (DEM-AP). A gente vai se acertando", ressaltou.

RAIO-X DO PSL

271.195 filiados (em ago.19)
3 governadores (SC, RO, RR), de um total de 27 estados
53 deputados federais, de 513; 2º maior bancada, atrás da do PT (54)
3 senadores, de 81, a maior bancada, do MDB, tem 13
R$ 110 mi - repasses do fundo partidário em 2019 (estimativa)

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