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07/10/2019 às 08h06min - Atualizada em 07/10/2019 às 08h06min

Em presídio federal, Marcola mandou matar delegado e investigadores, diz MP

UOL | São Paulo
8.jun.2006 - Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, chefe do PCC, ao chegar para prestar depoimento para os deputados federais da CPI do Tráfico de Armas Imagem: Rogério Cassimiro/Folhapress
 

Preso no sistema federal desde fevereiro deste ano, o líder do PCC (Primeiro Comando da Capital), Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, determinou a morte de três policiais como "retaliação" por ter sido transferido da prisão estadual em São Paulo. Entre os alvos, estava o delegado-geral da Polícia Civil, Ruy Ferraz Fontes, considerado um dos principais combatentes à facção. 

A informação está em uma denúncia de 30 de agosto deste ano, assinada pela promotora Silvia Vieira Marques, da Segunda Promotoria de Justiça Criminal da Capital do MP (Ministério Público). Marcola está em regime de isolamento, e a denúncia não explica como, ainda assim, ele determinou os assassinatos -- que não ocorreram.

A Polícia Civil atribui a Marcola um recado assinado pela cúpula e transmitido, em 10 de março deste ano, para membros da facção em uma casa da Cidade Tiradentes, bairro do extremo leste da capital paulista, contendo a ordem. 

Após investigação da Polícia Civil, o MP denunciou 13 supostos integrantes da organização criminosa pelos crimes de tráfico de drogas, crimes contra o patrimônio e de organização criminosa. 

Bonde dos 14 Segundo o Ministério Público, um setor da facção chamado Bonde dos 14 administrava e controlava tudo o que era relacionado ao PCC no bairro da Cidade Tiradentes. 

O MP apontou que essa célula "se mantém basicamente pela exploração do tráfico de drogas, empréstimos de armas para execução de roubos de grande monta, ocultação de bens e valores, além de lavagem de dinheiro por meio de atividades ilícitas". 

Seriam integrantes do Bonde dos 14 os responsáveis por executar a determinação de matar o delegado-geral da polícia paulista e os dois investigadores. A reunião que teria sido feita entre esses membros no dia 10 de março tinha como "real intenção passar as ordens do alto comando da facção para organizar ataques a autoridades do estado de São Paulo".


Ruy Ferraz Fontes, delegado-geral da polícia de São Paulo Imagem: 08.fev.2019 - Aloisio Mauricio /Fotoarena/Folhapress.

No curso das investigações, apurou-se que a ordem para efetuar os atentados contra os agentes públicos proveio de Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, maior liderança da facção, que se encontra preso. 

Denúncia do Ministério Público 

Molejo foi preso em 1º de julho e está na penitenciária de Lavínia, no interior de São Paulo. 

Braço direito 

Investigações também apontam o envolvimento de Décio Gouveia Luiz, vulgo Decinho, que já ficou preso com Marcola e era visto como seu "braço direito" na zona leste de São Paulo. 

Ele foi alvo de escutas telefônicas, mas nada foi encontrado, porque utilizava apenas mensagens criptografadas para se comunicar. Policiais também o acompanharam e documentaram seus passos, com fotografias de Decinho em locais como um bar e um campo de futebol de várzea. 

Ao notar que era observado, Decinho saiu de São Paulo. Foi para o Rio de Janeiro, onde passou a usar o nome falso de Lucas de Souza Oliveira e ter grande cobertura de segurança da cúpula do PCC. Em 14 de agosto deste ano, ele foi preso em uma casa de luxo em Arraial do Cabo. Desde 28 de agosto, está penitenciária dois de Presidente Venceslau, no interior de São Paulo, onde estão reclusos lideranças da facção.



Décio Gouveia Luiz, o Decinho, ao ser preso, em casa de luxo em Arraial do Cabo, no Rio de Janeiro Imagem: 14.ago.2019 - Divulgação/Polícia Civil

A investigação sobre Decinho, que ocorria desde março, levou a polícia a um outro integrante da facção: Sandro de Cássio, o Carioca. Antes de Decinho ser preso no Rio, a polícia paulista prendeu Carioca, em 12 de junho. Com ele, havia drogas, uma arma de fogo com numeração raspada, anotações de contabilidade do tráfico, dois celulares e uma carta manuscrita, com a ordem de matar o delegado-geral. O conteúdo da carta é o seguinte: 

"Viemos através desse salva passar direção referente os trampos que foram passados a nossos irmãos do quadro disciplinar e ainda não foram concluídos. 

Em primeiro lugar, deixar claro que todas as missões que foram passadas para nossos irmãos são de interesse da família e não de interesse individual. 

A sintonia geral vem cobrando o resultado dos trampos passados para nossos irmãos da zona leste e ABC contra os vermes que vem prejudicando o andamento dos trabalhos da família. 

Irmãos responsáveis: Lixo, Morto, Pita e Tito. Missão: Wagnão da DISE (Divisão de Investigações Sobre Entorpecentes) de São Bernardo do Campo. 

Disciplina Cidade Tiradentes Irmãos responsáveis: Koringa, Mimo, Barata, Terere, Corintiano. Missão: delegado Ruy Ferraz Fontes. 

Apoio dos 14 Irmãos responsáveis: Oreia de Guaianazes, Jagunço Favoy, Irmão R, Casinha do Bonifácio. Missão: Investigador Saudo do prédio. 

Em cima dessa caminhada, a sintonia deixa ciente que se não foi concluída cada missão, a cobrança com nossos irmãos será à altura, pagando com a própria vida. 

Deixando claro que os interesses do comando estão à frente de qualquer outro. 

Está determinado, que seja feito de bate pronto esses trampos. 

Um forte abraço a todos. 

Seguiremos incansavelmente. 

Sintonia Geral." 

Todos os citados com a missão de matar o delegado-geral já haviam sido identificados pelo MP e denunciados. São eles: 

Cleberson Paulo dos Santos, o Mimo: função de liderança dos demais integrantes da facção que se encontram soltos. Recebe reclamações dos interlocutores, pedindo para tomadas de providências. Organizava reuniões em casas da Cidade Tiradentes. 

Fernando Henrique dos Santos, o Koringa, e Jhonatan Alexandre Rodrigues, o Barata: Ambos são executores do Bonde dos 14. Têm a função de aplicar as punições aos integrantes que não cumprem as ordens emanadas pela alta cúpula da facção. 

Alan Donizete dos Santos, o Terere: função de fiscalizar pontos de venda de drogas e, também, aplicar punições aos integrantes que não cumprem ordens superiores. 

Marcos Ferreira de Souza, o Corintiano: função de aplicações das penas após o julgamento pelo "tribunal do crime", inclusive assassinando integrantes da facção. 

Na denúncia do MP, não está claro se, apesar de identificados, os apontados estão presos. Procurado pela reportagem, o delegado-geral não se manifestou sobre a denúncia do MP.


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