Informações obtidas no acordo de colaboração do ex-ministro Antonio Palocci serviram como base para uma investigação sobre vazamentos de resultados de reuniões do Copom (Comitê de Política Monetária), que define a taxa básica de juros, a Selic. O banco BTG Pactual é alvo da operação da PF (Polícia Federal). A investigação está sob sigilo.
Segundo a PF e o MPF (Ministério Público), os vazamentos teriam acontecido entre 2010 e 2012, período que abarca os governos dos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Dilma Rousseff (PT). O esquema tinha como objetivo oferecer vantagens para "banqueiros e agentes públicos do alto escalão do governo federal da época".
O nome da operação, realizada hoje, é "Estrela Cadente". Palocci foi ministro da Fazenda no governo Lula entre 2003 e 2006. Ele também ocupou o cargo de ministro-chefe da Casa Civil do governo Dilma em 2011.
No período mencionado pelos investigadores, a Fazenda era comandada por Guido Mantega, e o Banco Central, por Henrique Meirelles (até o final de 2010) e Alexandre Tombini (a partir de 2011).
Informações sigilosas
Segundo a delação de Palocci, informações sigilosas sobre alterações na taxa de juros eram repassadas pela cúpula do Ministério da Fazenda (atual Ministério da Economia) e do BC (Banco Central) para um fundo de investimento administrado pelo banco BTG Pactual. A ação teria rendido "lucros extraordinários de dezenas de milhões de reais" à instituição financeira, segundo a PF.
A sede do BTG em São Paulo é alvo de mandado de busca e apreensão.
Em nota ao UOL, o banco disse que recebeu "pedidos de informação do MPF referentes a operações realizadas pelo Fundo Bintang FIM". "O fundo possuía um único cotista pessoa física, profissional do mercado financeiro que também era o gestor credenciado junto à CVM [Comissão de Valores Mobiliários], que nunca foi funcionário do BTG Pactual ou teve qualquer vínculo profissional com o banco ou qualquer de seus sócios".
O fundo, segundo dados da CVM, foi aberto em agosto de 2010 e encerrado em fevereiro de 2013. Ela era gerida por Marcelo Augusto Lustosa de Souza. Segundo o BTG, o banco "exerceu apenas o papel de administrador do referido fundo, não tendo qualquer poder de gestão ou participação no mesmo".
De acordo com a agência Reuters, papéis do BTG chegaram a cair 10% após a divulgação da operação.
Procurado, o Ministério da Economia informou que não irá comentar o caso. Já o BC disse que "não foi comunicado sobre o conteúdo da Operação Estrela Cadente, que corre sob segredo de Justiça".
A reportagem pediu um posicionamento a respeito da operação ao ex-ministro Guido Mantega e ao ex-presidente do BC Henrique Meirelles, atual secretário da Fazenda do estado de São Paulo. O UOL não conseguiu contato com o ex-presidente do BC Alexandre Tombini.
De acordo com o MPF, as investigações apuram crimes como corrupção passiva e ativa, repasse de informação privilegiada, além de lavagem e ocultação de ativos.