Mesmo com a redução do preço do gás de cozinha autorizada pelo Governo Federal nos últimos dias, o produto ainda pesa no orçamento mensal de muitas famílias, que acabam recorrendo, como alternativa, à lenha e ao álcool para cozinhar alimentos. "O problema é que essa mudança agrava o risco de acidentes que podem causar queimaduras e incêndios", alerta a médica Edgleide Soares, que atua no Centro de Tratamento de Queimados (CTQ) do Hospital Geral do Estado (HGE), em Maceió.
Esta alternativa, aliás, foi a causa do acidente que teve como vítima a dona de casa Eliza dos Santos, de 48 anos, que está internada no CTQ desde o último dia 20 de maio. Residente no município de Matriz do Camaragibe, ela relata que, ao voltar da feira, foi à cozinha preparar o almoço. Sem condição financeira para custear os R$ 100 do botijão de gás - preço médio em Alagoas -, resolveu improvisar o cozimento com dois tijolos e uma lata de alumínio. Dentro desse recipiente, ela utilizou álcool.
“Eu sempre tive muito cuidado. Tenho medo, mas era o jeito. Então joguei um fósforo na lata, não pegou fogo. Eu achei que havia apagado, então joguei mais álcool. Foi nessa hora que teve a explosão e eu me vi sendo queimada”, lembrou com emoção. “Fiquei muito assustada, comecei a gritar, um menino jogou água em mim, pôs um pano molhado e chamaram a ambulância”, complementou.
A dona de casa teve 14,5% do corpo ferido com lesões de segundo grau, entre superficiais e profundas, na região do tórax, ouvidos e nos braços. Ela está recebendo os cuidados multidisciplinares, que incluem cirurgias, curativos, exercícios de reabilitação e atendimento psicológico. Enquanto a alta hospitalar não é uma realidade, ela busca a paciência ouvindo conteúdos cristãos no rádio que levou para o HGE.
“Já havia acontecido outros sustos, mas não assim. Dessa vez eu pensei que iria morrer. Foi muita agonia, muita coisa ao mesmo tempo. Quando cheguei aqui no HGE, via todo mundo querendo cuidar de mim, diminuir as minhas dores, tratar os ferimentos e me deixar mais calma. Agora estou em processo de recuperação. É doloroso, às vezes me sinto só, mas o suporte que venho recebendo tem sido maravilhoso e eu acredito que voltarei para a minha casa”, disse a paciente.
O que fazer após a queimadura
A médica do HGE ressalta que a tragédia poderia ter sido maior caso a paciente não tivesse recebido a ajuda de vizinhos, uma vez que estava sozinha em seu lar. Edgleide Soares também reforça que, de imediato, é importante pôr a região do corpo queimada em água corrente fria, por cerca de dez minutos, e buscar rapidamente os cuidados especializados.
“Nessa história foi possível entrar na casa e ajudar, mas, caso tivesse ocorrido um incêndio, o recomendável é acionar o Corpo de Bombeiros para fazer o resgate com segurança. Lamentamos o problema social que leva muitas pessoas a não terem acesso a um fogão seguro, no entanto, peço para que evitem preparar os seus alimentos assim, e isso vale para o churrasco do fim de semana”, pontuou a médica.
Orientações
Para acender a churrasqueira ou o fogão à lenha, Edgleide Soares orientou que é necessário se distanciar de materiais inflamáveis e verificar se o carvão ou a lenha estão secos. Uma boa dica é molhar o papel com óleo de cozinha e acendê-lo antes de colocá-lo na churrasqueira ou no fogão à lenha. Em seguida, basta apenas ir colocando o carvão ou a lenha por cima e abanar até manter a brasa. Não se deve jogar álcool, querosene ou qualquer outro produto inflamável já existindo o fogo.
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