Uma professora da Universidade de Lund, na Suécia, organizou o resgate de um doutorando retido em uma região do Iraque controlada pelo grupo terrorista Estado Islâmico. A operação ocorreu em 2014, mas o caso só foi revelado nesta semana pela revista "LUM", oficial da instituição.
Tudo começou quando Firas Jumaah, doutorando em química na instituição, soube que o Estado Islâmico havia invadido a cidade onde a família dele morava no norte do Iraque. Mesmo sabendo dos riscos e da tese a terminar, ele tomou um avião para tentar proteger a mulher e os filhos.
Jumaah é da etnia yazidi, vítima de genocídio pelos militantes do Estado Islâmico. Os terroristas, quando invadiam vilarejos dessa população, matavam todos os homens e tomavam as mulheres como escravas.
Minoria Yazidi para escapar da violência do Estado Islâmico caminha em direção à Siria, em imagem de 11 de agosto de 2014 — Foto: Rodi Said/Reuters Minoria Yazidi para escapar da violência do Estado Islâmico caminha em direção à Siria, em imagem de 11 de agosto de 2014 — Foto: Rodi Said/Reuters
Minoria Yazidi para escapar da violência do Estado Islâmico caminha em direção à Siria, em imagem de 11 de agosto de 2014 — Foto: Rodi Said/Reuters
O doutorando em química, portanto, teve de se esconder com a família em uma fábrica de alvejantes abandonada. Lá, fazia calor de 45°C e eles tiveram de conviver semanas com pouca comida e um cheiro forte de produtos químicos.
"Que vida eu teria se alguma coisa acontecesse com eles ali?", perguntou-se Jumaah.
Atraso na pesquisa
O doutorando, então, enviou uma mensagem à orientadora da tese – a professora Charlotta Turner. Ele pediu que ela imprimisse a tese caso ele não retornasse à Suécia em uma semana.
Desesperada, Turner procurou a chefia da Universidade de Lund para tentar fazê-lo voltar para concluir a tese. "Fiquei revoltada em como o Estado Islâmico invade nosso mundo, expõe meu aluno e sua família e ainda atrapalha a pesquisa", disse a professora.
A instituição concordou em ajudar. A professora telefonou para o chefe de segurança Per Gustafson. Ele a informou que, coincidentemente, ele havia contratado para a universiade empresas de segurança e transporte que existiam em várias partes do mundo. "Parecia que estávamos preparados para a missão."
O resgate do doutorando
Refugiados da minoria yazidi são retirados do monte Sinjar, no norte do Iraque — Foto: Rodi Said/Reuters Refugiados da minoria yazidi são retirados do monte Sinjar, no norte do Iraque — Foto: Rodi Said/Reuters
Refugiados da minoria yazidi são retirados do monte Sinjar, no norte do Iraque — Foto: Rodi Said/Reuters
Gustafson e Turner, então, bolaram um plano. Eles contrataram mercenários fortemente armados que partiram em busca de Jumaah. Conseguiram resgatar o doutorando, a mulher e os dois filhos pequenos da zona de guerra. Todos passaram seis horas protegidos com coletes à prova de balas e capacetes até chegarem ao aeroporto em Erbil, prontos para partir à Suécia.
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"Foi difícil e eu me senti mal por ter deixado minha mãe e meus irmãos para trás", contou Jumaah. A boa notícia veio depois, quando soube que eles conseguiram escapar da região ocupada pelo Estado Islâmico.
Finalmente na Suécia, Jumaah conseguiu concluir o doutorado. Hoje, ele tem uma permissão permanente para morar no país europeu com a família e trabalha em uma empresa farmacêutica na cidade de Malmo. A mulher dele, Rawya Hussein, é mestre em química e procura emprego.
"No Iraque, não podia dizer que era yazidi. Na Suécia, sou tão digno quanto todo mundo. Eu me sinto forte, pertenço à sociedade e cumpro com meus deveres por isso", contou Jumaah à "LUM".
A professora que iniciou os trabalhos do resgate – e sacrificou as férias por isso – celebrou a vinda da família de Jumaah.
"Há algo de muito bonito na pesquisa, porque ela se espalha pelo mundo e o une. Podemos ver a pesquisa como um projeto de paz", afirmou a professora Turner.