Os Ekedes são os olhos e os ouvidos dos orixás. São os que andam com um adjá (instrumento sagrado) na mão e uma toalha para secar o rosto do povo de terreiro", explicou Nadja Cabral, Ekede de Osún, ao falar sobre o cargo que ocupa dentro do candomblé e a importância que carrega.
Para debater temas presentes na vida dessas mulheres, aconteceu na sexta-feira (8) o I Encontro de Ekedes de Alagoas. O evento foi realizado no Jatiuca Hotel e Resort e teve o apoio do Governo de Alagoas, através da Secretaria de Estado da Mulher e dos Direitos Humanos e da Secretaria de Estado da Cultura.
O encontro teve como objetivo principal a afirmação e o fortalecimento da identidade das Ekedes, que são mulheres de alta importância no candomblé e que carregam consigo um alto simbolismo, voltado para o funcionamento da Casa. Para a secretária da Semudh, Maria Silva - que é adepta à religião de matriz africana - o evento foi um momento histórico para o candomblé em Alagoas e que abre possibilidades de momentos mais frequentes de discussão sobre situações que atingem essa comunidade.
“As Ekedes, assim como todo o povo de terreiro, devem assumir lugares de protagonismo na sociedade. Devemos lutar para não nos escondermos e termos a liberdade de ser quem somos. Aqui, com esse evento, é a abertura para podermos discutir o que é melhor para o povo do Axé e para os nossos terreiros”, disse Maria Silva.
Já a superintendente de Identidade e Diversidade Cultural da Secult, Perolina Lyra, deseja que este momento traga união. “Nós esperamos que as Ekedes tenham saído do encontro mais unidas e fortalecidas. Este foi somente um pontapé inicial. Com a união das mulheres nós podemos romper desafios, sobretudo numa realidade de muita intolerância”.
Além disso, a ocasião teve dois momentos distintos se cruzando entre eles: a alegria trazida nas apresentações artísticas e com a valorização da cultura ancestral e, também, a seriedade presente nas mesas redondas que trouxeram à tona debates sobre intolerância religiosa e direitos humanos.
O encontro já era um desejo antigo da Ekede Nadja, que promoveu o evento, onde ela via necessária a união entre as Ekedes alagoanas para, assim, debater suas vivências e exercer a fé do povo dos orixás. “Há quatro anos, quase cinco, eu me transformei em uma Ekede e, há um ano eu entrei para a Undeke, que é a União Nacional das Ekedes. Desde então eu sou a única representante de Alagoas lá. Então, eu sonho com esse encontro de Ekedes alagoanas há bastante tempo e esse dia finalmente chegou. Eu só tenho gratidão à Secretaria da Mulher e dos Direitos Humanos”, declarou.