Num País onde a cada 60 minutos, em média, pelo menos cinco pessoas morrem vítimas de acidente de trânsito, em Alagoas os gastos do SUS para socorrer os feridos nessas ocorrências somam R$ 26,5 milhões. O total é o correspondente ao desembolso feito pelo SUS entre os anos de 2009 e 2018 (confira aqui).
Nesse espaço de tempo, boa parte dos gastos oscilou entre R$ 2,3 milhões e 2,7 milhões em Alagoas. Mas nos anos de 2012 e 2013 algo aconteceu nas estatísticas de trânsito, saltando esses valores para R$ 3.141.546,34 e R$ 3.208.124,34, respectivamente. Na última década, as internações hospitalares decorrentes de acidentes de trânsito consumiram em todo o Brasil cerca de R$ 2,9 bilhões do SUS, em valores atualizados pela inflação do período.
"Estamos falando de um custo médio de aproximadamente R$ 290 milhões ao ano, que obviamente foi investido para salvar vidas, o que é justificável. Se conseguíssemos diminuir o número de vítimas do trânsito, no entanto, teríamos um impacto muito grande também nas contas públicas. São recursos que poderiam ser direcionados para outras áreas prioritárias da assistência em saúde no País", pontua.
Estimativas conservadoras, segundo ele, calculam em cerca de R$ 50 bilhões ao ano os gastos com os acidentes, incluindo atendimento médico-hospitalar, seguros de veículos, danos a infraestruturas, perda ou roubo de cargas, entre outras despesas.
"É preciso lembrar que existem outros custos envolvidos neste contexto, como o do absenteísmo por doença (falta do trabalhar por atestado ou licença-saúde), com auxílios doença e tudo o mais que o País tenha investido no indivíduo que veio a óbito ou que ficou inválido em idade produtiva. Mais grave do que toda essa matemática, porém, são as sequelas físicas e emocionais - muitas vezes irreversíveis - que cada um destes acidentes deixa na vida das pessoas".
Segundo o levantamento do CFM, que considerou ainda dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) do Ministério da Saúde, só em 2016 (ano mais recente disponível), foram registrados 37.345 óbitos decorrentes de acidentes de transportes terrestres. Embora a quantidade seja a menor registrada no período analisado (2007 a 2016), o número de mortes tem avançado em alguns estados, sobretudo das regiões Nordeste e Norte do País.
Em Alagoas, entre 2008 e 2016, morreram vítimas de acidente de trânsito um total de 6.763 pessoas. Os piores anos foram 2011, 2012 e 2014, com um saldo de 830, 836 e 832 vítimas no estado, respectivamente. (confira aqui).
Na região Norte, a mortalidade por acidentes subiu 30%. Da mesma forma, no Nordeste houve um crescimento de 28% dos casos. No Centro-Oeste também houve aumento do indicador (7%), enquanto nas regiões Sul e Sudeste apresentaram menor quantidade de óbitos em 2016, frente à 2007, com queda de 15% e 18%, respectivamente.
Embora os estados de São Paulo, Minas Gerais e Paraná liderem o ranking nacional em números absolutos de mortes no trânsito durante os últimos dez anos, o Piauí foi a federação que apresentou o maior crescimento proporcional no período: 56%. Em 2007, 670 óbitos haviam sido registrados naquele estado, número que saltou para 1.047 dez anos depois. Na mesma proporção, de 56%, cresceram os registros vítimas fatais no Maranhão no período. Ao todo, 16 estados notificaram aumento desse tipo de agravo.
De outro lado, o estado mais populoso do País informou queda na quantidade de óbitos desta natureza. Em 2016 foram 5.740 mortes, 24% a menos que o indicado em 2007 (7.550). No quadro nacional, também figuraram com redução significativa de casos fatais no período os estados de Santa Catarina e Roraima, ambos com queda de 23%; Distrito Federal (22%); e Espírito Santo (20%).
Internações chegam a mais de 21 mil em Alagoas
Já o número de internações em Alagoas chegaram a um total de 21.212 vítimas atendidas pelo SUS por causa de envolvimentos em acidentes de trânsito. O saldo é referente ao período de 2009 a 2018, sendo os anos de 2013 e 2016 considerados os piores, com 2.373 internamentos no primeiro e 2.501 no segundo (confira aqui).
Segundo a análise do CFM, a cada hora, em média, cerca de 20 pessoas dão entrada em um hospital da rede pública de saúde com ferimento grave decorrente de acidente de transporte terrestre. Ao avaliar o volume total de vítimas graves do tráfego nos últimos dez anos (1.636.878), é possível verificar que 60% desses casos envolveram vítimas com idade entre 15 e 39 anos, sendo menor a frequência nas faixas etárias que vão de zero a 14 anos (8,2%) e em maiores de 60 anos (8,4%). Outra constatação: quase 80% das vítimas eram do sexo masculino.
Entre 2009 e 2018, houve um crescimento de 33% na quantidade de internações em todo o País. O pior cenário, proporcionalmente, foi identificado no estado de Tocantins, que saiu das 60 internações, em 2009, para 1.348, no ano passado (aumento de 2.147%). Na sequência aparece Pernambuco, onde o salto foi de 725% na última década. Apenas cinco estados registraram queda no número de internações por acidente de transporte: Maranhão (redução de 40%), Rio Grande do Sul (22%), Paraíba (20%), Distrito Federal (16%) e Rio de Janeiro (2%).
Em números absolutos, 43% do volume total de internações registradas no SUS no período ficou concentrado em estados do Sudeste, região que reúne também metade da frota de veículos automotores do País. Outros 28% dos casos graves ficaram no Nordeste e o restante ficou diluído entre o Sul (12%), Centro-Oeste (9%) e Norte (7%).
Para a presidente da CFM, Carlos Vital, a solução para reduzir os acidentes depende de uma série de fatores de prevenção, reforço na fiscalização e sinalização, além de questões de infraestrutura e aprimoramento dos itens de segurança dos veículos.
"Neste contexto, os médicos desempenham papel fundamental nas discussões sobre direção veicular segura. O impacto desses acidentes nos serviços de saúde é alto. Leitos são ocupados, hospitais e médicos se dividem no atendimento entre os acidentados e os que procuram assistência médica para patologias que não poderiam prevenir, diferentemente dos acidentes de trânsito, que podem ser reduzidos e prevenidos", destacou.
* Com informações do Conselho Federal de Medicina