Cientistas da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) já identificaram a presença de dez linhagens do coronavírus em Alagoas. Destas, três são variantes da doença. Foram detectadas em amostras alagoanas as variantes B.1.1.7, conhecida como variante do Reino Unido; P.1, conhecida como variante do Amazonas e P.2, conhecida como variante do Rio de Janeiro. A Fiocruz analisou 92 genomas de Alagoas.
As informações constam no endereço eletrônico da Rede Genômica Fiocruz, que divulga dados sobre as mutações do vírus causador da Covid-19. O painel dinâmico da instituição mostra que as variantes P1 e P2 são as mais presentes nas amostras alagoanas enviadas à Fiocruz em fevereiro.
Além disso, a Fiocruz informou nessa terça-feira (23) que, em mais um achado inédito, pesquisadores da Fundação identificaram importantes alterações na estrutura da proteína Spike (S) do vírus SARS-CoV-2 em circulação no Brasil. Onze sequências genéticas apresentaram deleções na região inicial da proteína e em quatro ocorreu inserção de alguns aminoácidos. Duas amostras analisadas são de Alagoas e se trata de pacientes provenientes do estado do Amazonas ou com histórico de viagem à região
A proteína Spike é associada à capacidade de entrada do patógeno nas células humanas e é um dos principais alvos dos anticorpos neutralizantes produzidos pelo organismo para bloquear o vírus.
Os cientistas ressaltam que, até o momento, poucos genomas apresentam as alterações e que ainda não se caracteriza como a formação de uma nova linhagem do SARS-CoV-2. Entretanto, alertam que é preciso permanecer com o monitoramento para acompanhar se vírus com essas alterações não aumentarão de frequência. “Podemos dizer que esta é uma descoberta precoce, o que enfatiza a importância de ações em vigilância genômica, como a realizada pela rede da Fiocruz”, explica a chefe do Laboratório de Vírus Respiratórios e do Sarampo do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), a pesquisadora Marilda Siqueira.
Os novos resultados, detectados a partir da metodologia de sequenciamento genético, são provenientes de amostras coletadas de pacientes de sete estados: Amazonas, Bahia, Maranhão, Paraná, Rondônia, Minas Gerais e Alagoas. As modificações ocorreram no domínio amino (N)-terminal (NTD), que podem dificultar a ligação com anticorpos e, assim, promover o escape imunológico do vírus no corpo humano. Mas os cientistas adiantam que dados experimentais complementares são necessários para testar essa hipótese nas linhagens que circulam no país.
Uma amostra coletada no Amazonas apresentou deleção em sequência genética ligada à linhagem B.1.1.28. Quatro amostras da Bahia, duas de Alagoas e uma do Paraná apresentaram perdas em sequências caracterizadas como linhagem P.1. Uma amostra de Minas Gerais apresentou a alteração na linhagem P.2. Duas amostras do Maranhão apresentaram a deleção na linhagem B.1.1.33, que também continham a mutação E484K.
Três amostras do Amazonas e uma do Paraná continham inserção de material genético em sequências provenientes da linhagem B.1.1.28 (P.1-like) – assim denominada por ser muito semelhante à P.1.
“O novo coronavírus está continuamente se adaptando e, com isso, propiciando o surgimento de novas variantes de preocupação e de interesse com alterações na proteína Spike. No entanto, vale ressaltar que as novas mutações foram, até o momento, detectadas em baixa frequência, apesar de encontradas em diferentes estados. Ainda precisamos dimensionar o impacto deste achado e, sem dúvidas, ampliar cada vez mais o monitoramento genômico”, ressalta a virologista Paola Cristina Resende, do mesmo Laboratório, que atua como coordenadora da curadoria da plataforma genômica internacional GISAID no Brasil.