18/11/2019 às 10h23min - Atualizada em 18/11/2019 às 10h23min
Dominação e dominados
A humanidade pode ser enxergada, percebida e resumida pela dicotomia entre dominadores e dominados. Existe uma necessidade quase inata e fisiológica que o ser humano possui voltada para dominar seu semelhante exercendo sobre ele poder de vida e de morte. É assim desde que o mundo é mundo, e hoje não é diferente. Senão vejamos!
Com o esfacelamento do poder de Roma, a Europa se fragmentou em pequenas estruturas (reinos) de poder. Daí surge o que os historiadores chamam de Idade Média. Nesse contexto, a instituição igreja católica e o bispado detinham mais importância sócio-política do que o próprio monarca.
Para além das relações de vassalagem que ocorriam entre o legitimado por sangue e direito à terra (rei) e seus prestadores de serviço (vassalos) estava o bispo local. Mais do que isso, a igreja católica exercia a função que hoje o Estado pratica de jurisdição e aplicação da lei. A dominação era então marcada pela sacralidade típica da liturgia católica.
Com o declínio da Idade Média e o florescimento dos Estados devidamente delimitados e unificados sob, via de regra, mesma língua, cultura, costumes e um monarca, o método de dominação preponderante passa a ser o sanguíneo. Claro que a influência da igreja na vida das pessoas ainda existia. Mas o critério principal é ser o monarca de sangue e linhagem azul.
Caminhando mais um pouco, chegamos à primeira revolução industrial com o surgimento dos Estados Nacionais. A sociedade muda radicalmente hábitos e estruturas de poder até então em voga. A dominação é exercida pelo grupo pujante da época de industriais. Aparece então a chamada luta de classes entre proletariado e burguesia já exaustivamente debatida por, Karl Marx e outros.
Ainda na trajetória da histórica, no século seguinte, a humanidade realiza duas grandes guerras mundiais que geraram substancial evolução no campo de todas as ciências. Não é demais lembrar que total e qualquer tecnologia, da rudimentar a mais complexa, tem sua gênese em conflitos bélicos.
Grandes feitos da engenharia moderna, medicina e até a própria internet só foram possíveis em virtude da 1ª e 2ª guerras mundiais. O método de dominação do século passado foi então a tecnologia bélica. Armas químicas e nucleares faziam uma nação dominar ou ser dominada.
No presente século XXI em que estamos, o método de dominação é muito mais sofisticado e sutil. Violência, linhagem de sangue ou poderio bélico, por si só, já não servem para dominar com eficiência. Na atualidade, a relação entre dominados e dominadores se opera por meio do rastreio do Internet Protocol address (IP - Endereço de Protocolo da Internet) do celular.
A essa altura o leitor deve está pensando que estou imerso no delírio. Peço calma! Não sejamos tolos. Veja comigo, toda nossa vida está condensada nos dados do celular, do mínimo ao máximo. O que acessamos, localização geográfica, preferência e horários de hábitos são todos capturados pelos supre processadores dentro dos celulares e enviados para um centro de tratamento de dados cujo nome é data science (big data).
Não estou falando de invasão do dispositivo para ter acesso a fotos, vida privada, contas ou documentos que estão armazenados em PDF na memória do telefone.
Trata-se apenas da coleta e processamento de informações públicas que são feitas pelo endereço do IP. Por exemplo, quando colocamos a palavra “sapato” no Google ou outro buscador qualquer, e depois de horas ou dias a propaganda nas abas de publicidade de sites que visitamos é absolutamente direcionada a compra de sapatos.
Muito mais do que estímulo ao consumo ou publicidade direcionada, a coleta de informações pelo endereço de IP e posterior processamento dentro do big data é um método de entender comportamentos, influenciar a opinião das pessoas e até prever acontecimento, tendências e posturas. Temos a falsa ideia de que somos livres, podemos pensar e escolher de forma autodeterminada. Tudo não passa de um grande engodo. É apenas a dominação por método mais aprimorado.